POR QUE É IMPORTANTE APRENDER FRANCÊS CORRETAMENTE?

No Brasil, existe uma crença muito difundida — herdada principalmente do ensino de inglês — de que basta “ouvir e se jogar” para aprender uma língua estrangeira. Essa visão, que podemos chamar de vikotiskiana, parte da ideia de que a simples exposição ao idioma levará, de forma natural, à fluência. Mas quando falamos de francês, essa abordagem costuma falhar — e por boas razões.

1. O FRANCÊS É UMA LÍNGUA DE PRECISÃO

O francês é uma língua que valoriza estrutura, concordância e nuance. Pequenas variações de som ou de ordem das palavras podem mudar completamente o sentido de uma frase. É uma língua que exige atenção consciente à forma, não apenas à intenção. Sem uma base sólida em gramática, fonética e vocabulário, o aprendiz pode até compreender, mas dificilmente conseguirá se expressar de forma clara, elegante e natural.

2. A IMERSÃO SEM BASE LEVA À FRUSTRAÇÃO

Jogar o aluno diretamente em um ambiente francófono sem uma preparação adequada costuma gerar ansiedade, bloqueio e sensação de incapacidade. Aprender corretamente significa construir as ferramentas cognitivas para que a imersão realmente funcione — e não se torne um afogamento linguístico.

Falo isso por experiência. Já tive diversos alunos que moraram na França durante anos e, mesmo convivendo diariamente com falantes nativos, voltaram com muitos vícios de linguagem e dificuldades profundas em áreas fundamentais da língua. O problema é que o cérebro humano não distingue automaticamente sons que não existem na língua materna. Assim, por não reconhecer certas diferenças fonéticas — como as sutis variações entre vogais nasais ou os tempos verbais passados —, o aprendiz acaba formando uma amálgama de estruturas, confundindo, por exemplo, passé composé, imparfait e plus-que-parfait. De fato, essas pessoas conseguem se comunicar, mas não com precisão, e muitas vezes soam estrangeiras em situações em que desejariam parecer fluentes.

3. A LÍNGUA É O NOSSO CARTÃO DE VISITA

Precisamos lembrar que a forma como falamos é também nosso cartão de visita diante do mundo. Podemos ser julgados — consciente ou inconscientemente — pela clareza, pela escolha das palavras e até pela entonação. Por isso, se é para aprender, melhor aprender bem, cultivando um registro mais sólido, mais elegante, mais “avaliado”. Falar francês corretamente não é uma questão de vaidade, mas de respeito por si mesmo e pela língua que se deseja dominar.

4. O MÉTODO IMPORTA

Um bom aprendizado combina teoria e prática, repetição e reflexão, escuta e produção.
Não se trata de decorar regras, mas de compreender como e por que a língua funciona daquele jeito. É isso que transforma o estudante em alguém capaz de raciocinar em francês — e não apenas traduzir mentalmente o português.

Aprender francês “corretamente” não é ser rígido ou formal demais. É, antes de tudo, respeitar a língua e o próprio processo de aprendizagem. Porque quando a base é sólida, a fluência vem naturalmente — e com ela, o prazer genuíno de pensar, sentir e viver em francês.

Diogo Costa doutor pela UFRJ e criador da Universidade do Francês

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